quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O BOM-CRIOULO: O HOMEM E O HOMOSSEXUALISMO

Quando falamos em homossexualismo, o que vem em mente? Para uns é algo comum, para outros é pura falta de respeito à sociedade e aos valores. Desde antes do século XIX até hoje, o que predomina é o segundo pensamento. Agora imagine: fazer uma obra para um público preconceituoso, claro que não é fácil, e ainda tratar do tema de forma naturalista, pior. Mas foi o que fez Adolfo Caminha, autor do livro “Bom-Crioulo”.

Adolfo Ferreira Caminha nasceu em Aracati, província do Ceará, em 29 de maio de 1867. Transferido para Fortaleza, estuda as primeiras letras em casa de parentes. Na época de estudante as primeiras composições eram em prosa e em verso. Consegue entrar para a marinha e ali vê os maus-tratos diários, o que influencia na publicação de “Bom-Crioulo”. No dia 1º de janeiro de 1897, com trinta anos incompletos, ele morre e seu enterro é simples e pobre, no cemitério São Francisco Xavier. 

O “Bom-Crioulo” é um romance naturalista. É muito criticada porque, além de ter como tema o homossexualismo, mostra o homem na sua forma animalesca: ao invés de homem e mulher as palavras macho e fêmea aparecem com freqüência.

Amaro é um ex-escravo que se refugia na marinha, em um navio chamado corveta. É um negro alto, todo musculoso, incomparável. É de alma muito boa (daí o apelido de bom-crioulo), mas quando bebe se torna incontrolável. Lá encontra Aleixo, um rapaz branco de olhos azuis o qual preza com muito carinho, chegando a ser castigado com 150 chibatadas por Agostinho, tudo porque mexeram com “o grumete” (Aleixo). Por ter um grande amor acaba conseguindo um quarto que fica na rua da misericórdia, numa pensão que é administrada por dona Carolina. Esta é uma portuguesa ex-prostituta que foi salva por Amaro há anos de ladrões. Os dois passam um ano indo a terra para se relacionarem até que Amaro é posto em outro navio de nome couraçado. Daí começa seus desencontros com Aleixo e este passa a ter um relacionamento com dona Carolina. Bom-crioulo volta a beber e a ser castigado, só que desta vez vai parar no hospital. Lá ele sabe por seu amigo Herculano que Aleixo está amigado e então, enciumado foge, culminando assim no assassinato de Aleixo.

Triângulo amoroso: vértices de um triângulo escaleno - Um triângulo amoroso é composto, geralmente, por duas mulheres lutando por um homem ou dois homens lutando por uma mulher. Neste romance, acontece o inusitado: D. Carolina e Amaro lutam por Aleixo. Mas as formas que as personagens são narradas em suas relações revelam algo diferente: D. Carolina não faz papel de mulher, mas o oposto: ela o despe, chama-o para a cama, é seduzida, e Aleixo se torna uma fêmea, sabendo que uma de suas características é a feminilidade. “Era uma pena, decerto, ver aquele rosto de mulher, aquelas formas de mulher, aquela estatuazinha de mármore, entregue a mãos grosseiras de um marinheiro, de um negro...” (pg. 87).

Aleixo também é visto assim por Amaro. Bom-Crioulo o prezou desde que se conheceram, pois o ar inocente do grumete o seduziu como uma mulher a um homem. “esse movimento indefinível que acomete ao mesmo tempo duas naturezas de sexos contrários, determinando o desejo fisiológico da posse mútua, essa atração animal que faz o homem escravo da mulher e que em todas as espécies impulsiona o macho a fêmea, sentiu-a Bom-Crioulo irresistivelmente ao cruzar a vista pela primeira vez com o grumetezinho. Nunca experimentara semelhante coisa, nunca homem algum ou mulher produzira-lhe tão esquisita impressão, desde que se conhecia! Entretanto, o certo é que o pequeno, uma criança de quinze anos, abalara toda a sua alma, dominando-a, escravizando-a logo naquele mesmo instante, como a força magnética de um ímã” (pg.30).

Características naturalistas - Dentre as características, o autor faz uso de uma que choca muitos críticos: a patologia sexual. O homossexualismo é vivenciado por Bom-Crioulo e o grumete que evidenciam essa patologia. Impulsão corporal, desejo e instinto animal: por exemplo, o uso das expressões “macho e fêmea” ou “essa atração animal”.

José Veríssimo, respeitado crítico literário, é um bom exemplo da recepção do livro: "Bom Crioulo é pior do que um mau livro: é uma ação detestável, literatura à parte.... Como quer o Sr. Adolfo Caminha que seja respeitado e estimado um homem que, sem utilidade alguma social, passou longos dias ocupado em analisar e discutir a psicologia improvável de nauseantes crimes contra a natureza, e tenta depois com isso despertar em nós o arrepio da curiosidade impura e mórbida?" (citado em Howes, 44) 

Valentim Magalhães, editor da influente revista A Semana, escreveu: 

"Ora, o Bom-Crioulo excede tudo quanto se possa imaginar de mais grosseiramente imundo. ... não é um livro travesso, alegre, patusco, contando cenas de alcova ou de bordel. ... é um livro ascoroso, porque explora - primeiro a fazê-lo, que eu saiba - um ramo de pornografia até hoje inédito por inabordável, por antinatural, por ignóbil. Não é pois somente um livro falsandé: é um livro podre; é o romance-vômito, o romance-poia, o romance-pus. ... Este moço é um inconsciente, por obcecação literária ou perversão moral. Só assim se pode explicar o fato de haver ele achado literário tal assunto, de ter julgado que a história dos vícios bestiais de um marinheiro negro e boçal podia ser literariamente interessante. ... Provavelmente o Sr. Caminha já foi embarcadiço, talvez grumete como seu louro Aleixo - o que ignoro. (citado em Howes, 43, Azevedo, 122-3).

Não só na época em que foi publicada como também na atualidade muitos que a lêem e acham uma obra “nojenta” e “ridícula”. O fato de Adolfo Caminha tê-la escrita em pleno período naturalista nos ajuda a entender o porquê do homem ser descrito de tal forma. Ele o mostra de maneira tão diferente do romantismo, por exemplo, que muitos amantes deste período acabam acusando a obra. Adolfo Caminha teve muita coragem ao escrevê-la, pois, mesmo sabendo que ela não seria bem aceita pela sociedade, fez com que chegasse ao povo e se tornasse repercutida.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

BRASIL E TANZÂNIA: DIFERENTES REALIDADES EDUCACIONAIS


A educação no Brasil tem mostrado demasiadamente suas deficiências: o modelo de ensino, o método e os locais onde se aprendem são distantes à realidade. O sistema de ensino brasileiro foi o pior colocado em um estudo promovido pelo Banco Mundial. E para agravar a situação, em 26 de outubro de 2006 a UNESCO publicou o relatório anual "Educação para Todos" onde o país ficou na 72º posição, em um ranking de 125 países, e afirmou que com a velocidade de desenvolvimento atual, o país só atingiria o estágio presente de qualidade dos países mais avançados em 2036.  Muitos podem justificar isto afirmando que o país é de terceiro mundo. Mas então se questione: como que a Tanzânia, um dos países mais pobres do mundo, com o PIB de 2007 equivalente a 1100 dólares (o Brasil com PIB de 2 bilhões de dólares no mesmo ano) conseguiu uma educação que atendeu as expectativas da população?
Segundo Julius Kambarage Nyerere (1922-1999), presidente da Tanzânia após se tornar independente do Reino Unido (1961), “deve-se fomentar os objetivos sociais e preparar as crianças e os jovens para o papel que desempenharão na sociedade”.
Foi assim que em 1961 ele resolveu investir maciçamente na educação. Para tanto, dobrou o número de escolas e garantiu que cada professor tivesse clareza das implicações educacionais através de seminários realizados em nível nacional. Também criou as bases de uma filosofia educacional, que tinha como objetivo a valorização da cultura, moral e a história de seu povo: se trata do projeto “Self Reliance Programme” (programa de autoconfiança) que visou o resgate da autoconfiança de cada cidadão e trouxe o idioma nativo como língua oficial dela, ou seja, preocupou-se em retomar a consciência do povo, onde todos contribuíssem na formação de jovens e crianças tanzanenses. Também explorou a cooperatividade nas áreas rurais, empregando uma organização baseada nos princípios do socialismo (igualdade do trabalho e remuneração conforme a produção de cada um).
O modelo de educação da Tanzânia deve ser seguido e readaptado a nossa realidade. Além disso, para que este modelo possa ser implantado no país, é necessário que haja maior proximidade e interatividade entre educadores e educandos. A educação deve ser levada ao aluno, e não o aluno à educação, seguindo o exemplo de Tereza Nidelcoff, educadora argentina que acredita na idéia do professor povo, (educador que está próximo do aluno, pronto para atender suas necessidades e ajudá-lo a superá-las). Este deve vivenciar a realidade de seus estudantes para melhor compreendê-los, ou seja, utilizar da cultura local para chamar a atenção do aluno e não deixar que este veja a sala de aula como um passa-tempo, mas como uma oportunidade para melhorar de vida.
Mas, de nada adianta haver professores capacitados se as escolas onde ensinam fogem do alcance de quem delas necessita, tanto de forma física quanto educacional, como são acompanhadas pelos jornais as grandes dificuldades que os alunos de interiores, por exemplo, tem de chegar à escola. Ás vezes precisam acordar de madrugada para chegarem cedo a aula e alguns, quando não tem um transporte público e gratuito, ainda tem de andar muitos quilômetros.

Portanto, a educação e a cultura brasileira devem ser tomadas sob uma nova perspectiva: estudar o Brasil colonial, as raízes indígenas, a cultura africana e outros assuntos concernentes à nação brasileira com mais atenção, além de investir na capacitação de professores e criar escolas com o objetivo de alfabetizar e preparar cidadãos para o futuro seria um bom começo. Países desenvolvidos têm suas culturas reconhecidas em todo mundo por que eles mesmos buscam resgatar os valores do seu passado histórico. O mesmo deve acontecer a esta nação, libertando-se das amarras do modelo de ensino francês e alemão, criando uma nova consciência sobre educação em âmbito nacional, para que haja verdadeiramente o reconhecimento e valorização da cultura local.

Orientador: Gerson Schultz ( Professor de Filosofia da Educação na Universidade Estadual do Amapá – UEAP)
Acadêmicos: Bianca Vilhena; Etelvina Evangelista; Ezequias Corrêa; Jamilly Conceição; Lorenna Braga; Maria do Socorro; Miriana Costa ( Acadêmicos do curso de Licenciatura em Letras – 2008 na UEAP)